sábado, 27 de novembro de 2010


O livro e a América
(Castro Alves)

Talhado para as grandezas,

P'ra crescer, criar, subir,

O Novo Mundo nos músculos

Sente a seiva do porvir.

—Estatuário de colossos —

Cansado doutros esboços

Disse um dia Jeová:

"Vai, Colombo, abre a cortina

"Da minha eterna oficina...

"Tira a América de lá".

Molhado inda do dilúvio,

Qual Tritão descomunal,

O continente desperta

No concerto universal.

Dos oceanos em tropa

Um—traz-lhe as artes da Europa,

Outro — as bagas de Ceilão...

E os Andes putrificados,

Como braços levantados,

Lhe apontam para a amplidão.

Olhando em torno então brada:

"Tudo marcha!... O grande Deus!

As cataratas — p'ra terra,

As estrelas—para os céus

Lá, do pólo sobre as plagas,

O seu rebanho de vagas

Vai o mar apascentar...

Eu quero marchar com os ventos,

Com os mundos... co'os firmamentos!!!

E Deus responde — "Marchar!"

"Marchar!... Mas como?... Da Grécia

Nos dóricos Partenons

A mil deuses levantando

Mil marmóreos Panteons?...

Marchar cota espada de Roma

—Leoa de raiva coma

De presa enorme no chão,

Saciando o ódio profundo...

—Com as garras nas mãos do mundo,

—Com os dentes no coração?...

"Marchar!... Mas como a Alemanha

Na tirania feudal,

Levantando uma montanha

Em cada uma catedral?...