domingo, 25 de setembro de 2011

DESCRIÇÃO DA IMAGEM: DESENHO DE CINCO CRIANÇAS ALEGRES E DUAS TVs  EM CIMA DE UM LIVRO ABERTO SOBREVOANDO UM LITORAL, INCLUSIVE UMA ESTÁ COM UM CADERNO NA MÃO E  DUAS ESTÃO USANDO WALKMAM.
O previsível fracasso
 de nossa educação
(Joaci Góes)

O mau desempenho do ensino público brasileiro, segundo a última avaliação do ENEM- Exame Nacional do Ensino Médio, não surpreendeu quem sabe não haver efeito sem causa. “Veado não pare onça”, ensina a sabedoria popular.
Apenas 13 escolas públicas figuram entre as 100 melhores do país, resultado pífio quando se sabe que o ensino público detém a maioria das matrículas. Na Bahia, o desempenho da escola pública, como vem acontecendo, foi ainda mais fraco. Apenas uma pública, entre as dez melhores do estado, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, continuando o Colégio Helyos, particular, de Feira de Santana, em primeiro lugar!
O evidente descaso com o ensino público resulta da contradição entre o reconhecimento, pela população, do valor da educação e sua indiferente, para não dizer desidiosa, omissão ao expressá-lo nas urnas: o povo brasileiro não elege político que prioriza a educação. A partir, então, do fracasso eleitoral de Cristovão Buarque, como candidato à presidência da República, os políticos, literalmente, colocaram a viola no saco, e deixaram a educação de lado, no discurso e, sobretudo, na prática.
Tanto que só raramente se escuta um vereador, deputado, prefeito ou governador, discorrer sobre suas ações no sentido de promover a melhoria do ensino. É verdade que a grande maioria dos políticos tem da educação um nível mendicante de conhecimento. Para eles, o conceito de educação se restringe a assegurar vaga escolar para todos. Do que fazer para valorizar o papel do professor, a exibição de conhecimento se encerra com o manjado argumento de que o magistério é mal remunerado, verdade parcial de uma problemática muito mais ampla.
Se o resultado agora divulgado oferece perspectivas desastrosas para as populações carentes do país que, à míngua de um ensino que lhes dê condições de competir, com efetividade, na sociedade do conhecimento em que vivemos, continuarão à margem da plena cidadania, cuja concretização não prescinde de acesso a um nível razoável de renda, a situação dos que têm acesso ao ensino privado não chega a ser alvissareira, tendo em vista sua inferioridade quando comparado ao patamar dos países que praticam a compreensão de que fora da educação as sociedades não conseguirão melhorar seu IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
Alunos egressos de boas escolas privadas brasileiras sentem a inferioridade do seu aprendizado quando cursam universidades de ponta, mundo afora. Suas vantagens comparativas para competir com os egressos das escolas públicas nacionais, desaparecem quando concorrem no mercado globalizado em que estamos inapelavelmente imersos.
Também a OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico revelou que entre 42 países pesquisados, o Brasil ocupa o 33° lugar, contra o 11° do Chile, em matéria de desempenho educacional. A melhoria alcançada pelo Brasil não tem sido capaz de impedir o crescimento da distância que nos separa das nações mais desenvolvidas. Gastamos mal os poucos recursos destinados à educação. Na média dos países pesquisados, enquanto o investimento anual por aluno é de US$7.153, no Brasil esse valor cai para US$2.155, cerca de 30%.
É inacreditável que diante de tão ostensivo fracasso do Estado, no seu papel como educador, ainda apareça quem sustente a tese da proibição do ensino privado, cujo melhor desempenho, ao revés, deveria ser tomado como estímulo e parâmetro para a melhoria do ensino público.
Enquanto não somos bafejados pela emergência de um estadista-educador da têmpera de Domingo Faustino Sarmiento (1811-1888) que, como presidente da Argentina (1868-1874) revolucionou a educação no país, o leitor destas maltraçadas linhas poderia, uma vez por mês, escolher, a seu exclusivo talante, um político a quem indagar, candidamente, sobre o que ele tem feito para melhorar a educação em sua área de influência.
O diabo reside em nossa tendência de considerar que essa coisa de dedicar algum tempo, por mínimo que seja, para cuidar do interesse público, é responsabilidade dos outros. Pensamos: “A mim cabe cuidar, com absoluta exclusividade, da satisfação imediata dos meus apetites”.
Amém!