O ARQUIVO VIVO DO RÁDIO
Natural de Juazeiro, Perfilino Eugênio Ferreira Neto, nascido em 09 de março de 1941, recebeu em agosto de 2007 da Câmara Municipal de Salvador o título de Cidadão da Cidade do Salvador. É o produtor, supervisor e apresentador do programa apreciado como “Memória do rádio”, título do seu novo livro, e do programa Encontro com Chorinho na Rádio Educadora FM 107,5 de Salvador. Venceu em Xangai, China, o Internacional Sanghai Rádio Music Show em 1993. O radialista produtor e jornalista respeitado é conhecido pelas suas pesquisas de divulgação da cultura musical brasileira. Sempre atuante, comemora neste ano de 2010 50 anos de profissão, com atuações na Rádio Cultura (43 anos), rádio Bahia (12 anos) e nova AM (3 meses).
- O senhor é natural de Juazeiro. Como foi sua trajetória, sua chegada à capital?
Perfilino Neto – Cheguei à capital ainda com poucos dias de nascido, até porque minha mãe é natural de Juazeiro, meu pai natural de salvador e trabalhava aqui. Por ser do interior minha mãe não admitia passar, por exemplo, o Natal na capital, tinha que ser lá, às vezes o São João, mas faltamente o fim de ano tinha que ir a Juazeiro.
– Suas palavras estão em harmonia com o título que o senhor recebeu de Cidadão Soteropolitano. Como foi esta emoção?
Perfilino Neto – A emoção foi grande até porque eu não esperava. É de praxe no Brasil só se prestar homenagem ao morto, ao defunto. Ser homenageado vivo é de fato emocionante!
- Como se deu seu começo no rádio?
Perfilino Neto – Meu começo no rádio se dar na Rádio Cultura da Bahia, embora já tivesse experiência, como descrevo em meu livro Memória do Rádio. Meu contato com o rádio vem de cedo, de infância. Venho de um tempo do rádio sadio. Estou fazendo um programa aqui falando sobre a paródia, estou me reportando ao texto de um tempo em que o rádio fazia o ouvinte rir. É diferente de hoje onde o rádio se “espremer” sai sangue, é como a televisão. Venho de uma fase rica do rádio em que não existia a AIDS. Existia o câncer, mas não existia AIDS como também não existiam drogas. A droga se existia era muito camuflada. Tive a felicidade de ouvir esse tipo de rádio, rádio sadio onde a gente aprendia, e às vezes com o serviço de alto-falante onde o rádio passava a mensagem. O rádio cumpria a função social pregada por seu patrono Edgard R. Pinto. Ele dizia que uma das funções sociais do rádio era repassar cultura à distância, levar educação.
Descrição da imagem: foto de Perfilino Neto com Lília Castro e João Souza sentados em sua sala de trabalho na Rádio Educadora.
- Qual foi a maior dificuldade que o senhor encontrou na sua profissão?
Perfilino Neto - Eu diria que toda minha profissão no rádio foi marcada por uma série de obstáculos, uma série de ameaças e dificuldades, desde o início até os dias atuais, até neste momento, neste vinte de setembro de dois mil e dez ainda acontece porque o rádio é um veículo que apetece, todo mundo entende de rádio e não se agradam gregos e troianos. Quando você faz algo na arte basta você se destacar em um setor que gosta e faz principalmente por amor, surge sempre uma minoria que procura dificultar, pois isto incomoda, vem o problema da dor de cotovelo que tem me perseguido há mais de meio século. Sou persistente. No primeiro dia que fui trabalhar numa emissora de rádio, vou até preservar o nome do colega, pois hoje temos um bom relacionamento e até ele reconhece. Este colega que estava na mesa me disse: “Você veio fazer o quê? Perfilino: "Eu vim aprender a ser operador de rádio." O colega: “No meu horário eu não vou ensinar ninguém, esta rádio não paga ninguém e quer botar uma pessoa nova.” Perfilino: "Não vou ocupar a mesa, vou apenas olhar." O colega: “Mas acontece que olhando não se aprende.” Eu estava sentado numa cadeira, ele me pediu licença, levantei da cadeira, ele pegou umas caixas de disco, na naquela época era vinil, a programação da rádio ficava nestas caixas com alça de alumínio. Ele pegou duas ou três caixas e colocou na cadeira para que eu não ficasse sentado. A partir deste momento e até hoje minha vida foi marcada por pessoas que tentaram dificultar, impedir esta trajetória, mas nem por isto eu cedi. Para entrar no rádio na época você tinha que ter noções elementares, muito conhecimento de línguas - Inglês, Italiano... Até Esperanto você tinha que ter conhecimento! Como sabia que as barreiras eram grandes, então comecei em rádio como operador. Sempre gostei de discos e sempre comprei desde criança, então a alternativa que achei melhor foi começar como operador e deu certo.
– Este episódio foi o maior constrangimento que o senhor passou ou há outro que marcou mais?
Perfilino Neto – Outros marcaram. Este é até irrelevante por que tenho um bom relacionamento com ele, inclusive é meu colega de rádio, é aposentado. A gente até pilheria muito, ele diz: “Se eu não fizesse isto você continuaria como operador e não chegava onde estar.”
- Já trabalhou em TV?
Perfilino Neto – Não. Fiz algumas entrevistas. Não gosto de televisão.
– Por que não gosta?
Perfilino neto – Um dia desses uma repórter da Rede Globo veio fazer uma entrevista comigo e perguntou isto. Eu disse: “Por causa do ‘odor’”. O rádio para mim é um sacerdócio. Eu me lembro que um radialista, o Ney Gonçalves Dias era um apaixonado pelo rádio, doente pelo rádio. Quando Mao Tsé-Tung criou aquela frase, aquele pensamento – “Uma imagem vale mais que mil palavras”, parece que nos anos setenta, a televisão estava no auge, Ney Gonçalves Dias ficou chateado porque viu naquela expressão bem utilizada pela televisão uma humilhação para o rádio. Semanas depois entrou de férias e foi à França. Lá visitando a casa de um amigo encontrou um pensamento que foi o antídoto disso - “Tudo que entra pelo ouvido vai direto ao coração!” É o papel do rádio, é a imaginação, tudo que entra pelo ouvido imediatamente sensibiliza. Numa entrevista na década de oitenta, Carlos Galhardo disse que na imagem, inclusive quando é colorida, até a miséria é agradável.
– Há algum programa na televisão que o senhor gosta apesar de toda vulgaridade nas programações?
Perfilino Neto – Meu pavor, como já disse, é que se “espremê-la” sai sangue. Confesso que não conheço nenhum programa na televisão educativo. Meus filhos gostam da TV. Meu forte ainda é o rádio, porque apesar dos pesares continuo acreditando nele, é imbatível. Em todo avanço da tecnologia o veículo de comunicação mais beneficiado é o rádio. Passou a ser um objeto de uso pessoal. Em qualquer lugar você está com ele no celular, ainda não se consegue fazer isto como o notbook, com a internet.
– Como o senhor vê a rádio Web?
Perfilino Neto – A rádio web também é outro formato de rádio, não vou desmerecer a esta altura, ela usa a internet. Muito antes de a internet aparecer o rádio já estava presente fazendo todo este movimento no mundo, e aí que está o detalhe. Tenho em casa um rádio de 1940 que até hoje funciona, pesa vinte e oito quilos, é alimentado a válvula, é de ondas curtas, médias e tropicais, onde eu já ouvia nos anos sessenta e continuo ouvindo. Ainda ontem ouvi a BBC de Londres, Rádio Nacional de Lisboa, Rádio Pequim, Rádio Áustria da Berna, Rádio Vaticano. Eu escuto o mundo todo. Esta rádio web para mim não é novidade, sempre estive conectado com o mundo. Começo no rádio fazendo rádio-escuta. Sempre digo a meus filhos que gostaria que apenas dez por cento dos jovens tivessem acesso a rádio-escuta como eu tive. Fazendo rádio-escuta fui obrigado a andar com o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, diariamente estou consultando.
- Como o senhor faz a manutenção deste rádio da década de quarenta?
Perfilino Neto – Um colega faz a manutenção. Em Freira de Santana vende válvulas para ele e comprei uma caixa.
- Acha que as rádios privadas perdeu noção de limites do que passar, do que tocar? Acha que o governo deveria tomar alguma medida para coibir este tipo de atitude?
- O senhor pretende tornar seu livro acessível, em áudio, para pessoas com deficiência visual?
Perfilino Neto - Olha, ainda não tenho projeto neste sentido porque resolvi fazer um livro independente, não tenho patrocínio, até porque no momento que você vai buscar patrocínio ficará condicionado. Como sempre quis fazer um trabalho independente, e fiz um trabalho muito independente, estou contando a história do rádio, lançando um trabalho acadêmico, histórico, jornalístico, mas ao mesmo tempo divulgando a banda podre do rádio que ninguém aqui em Salvador teve ainda coragem de mostrar. Quem leu meu livro viu que estou contando todos os fatos, fatos desagradáveis. Para fazer este trabalho tive que fazer um lançamento independente, por isto digo a vocês que neste momento não tenho previsão ainda, porque para colocá-lo a disposição de vocês deficientes, teria que arcar com uma despesa maior. Quem sabe venha encontrar patrocínio para este livro e outros? Não sei se digo no livro, Henrique F Domingues, o Almirante, a maior patente do rádio, dizia que através do rádio o cego ver o mundo. Por que ele dizia isto? O rádio é um veículo de imaginação. Você começa a pensar: "Como é Perfilino? Ele é baixo? É magro? É alto? É careca? É preto? É branco?" É o caso de Silvio Santos que usava a figura de Lombard até pouco tempo: "E aí Lombard?" E Lombard entrava anunciando os prêmios que iam dar. Silvio Santos que vem do rádio e está com oitenta e poucos anos, usa aí este expediente do rádio, a imaginação. Toda força do rádio está justamente na imaginação, na palavra. A mesma palavra que constrói, é a palavra que destrói. Estou fazendo um trabalho, me deportando aos anos 30, por ocasião do Estado Novo, onde o rádio tem um papel importante. Este mesmo rádio que colocou Getulio lá em cima, botou em baixo. Este mesmo rádio que colocou João Gullar lá em cima derrubou com o golpe de 1964. O radio põe e derruba. Sendo que nos últimos tempos os políticos descobriram esta arma. Hitler dizia que o rádio é a pior arma na guerra das palavras.
- Qual o paralelo que o senhor faz do Governo Vargas e o Governo Lula?
Perfilino Neto - Se você for pesquisar verá que a diferença é muito pouca, pouquíssima! O assunto é tão complexo! Eu fiz dez programas por ocasião do cinqüentenário de Vargas. Uma das razões da queda de Vargas foi a utilização do dinheiro do Banco do Brasil e da Petrobrás. Como Vargas passou a financiar o programa Última Hora de Samuel Wainer. Carlos Lacerda não gostou, ele tinha o programa Tribuna da Impressa e Vargas não deu esta ajuda a ele, um jornalista famoso. Inclusive usei naquela série de programas apenas quatro ou cinco por cento do que tenho de Lacerda. Ele foi um gênio da comunicação, tanto na oral como na escrita. Ele tinha um programa de rádio onde ele tinha o dom da palavra, sabia colocar a voz e dominava a palavra também na literatura. Lacerda fez aquela campanha toda que derruba Vargas. A queda de Vargas teria sido por causa dos problemas que surgiram, claro que em menores direções do que hoje, ao ponto de Vargas suicidar-se. E Lula já disse que não seria Vargas, disse em um desses escândalos. Faço um trabalho apolítico. Acho que a diferença é pouca entre o governo de Vargas e o de Lula. Hoje a corrupção é muito maior. Temos que levar em consideração que naquela época a população era outra, o número de políticos também era inferior. Tudo era inferior há cinqüenta anos e hoje a corrupção talvez seja maior por que é proporcional ao desenvolvimento que enfrentamos.
- Alguns historiadores atribuem a criação do rádio ao italiano Marconi. O senhor defende que foi o Padre Roberto Landell de Moura. Por quê?
Perfilino Neto - Roberto Landell de Moura, há uma fundação em Porto Alegre com o nome dele, não só inventou a válvula com a qual desenvolveu o rádio como também inventou a máquina de passar carne, um tipo de máquina de escrever... Há outros inventos dele. Como ele lança seus primeiros inventos em 1890 mais ou menos porque em 1892 ele chegou a fazer uma experiência em São Paulo. Experiência esta que o levou a pedir ajuda do governo na época. Para fazer esta transmissão teria que levar um equipamento para o alto mar e aproveitando as ondas artesianas tinha que fazer transmissão do alto mar para terra e o governo não deu esta permissão. Depois que insistiu muito acabou fazendo esta experiência em terra e causou muita repercussão a ponto de um cônsul alemão que estava presente demonstrar interesse, queria inclusive participar mas terminou seu período aqui no Brasil, seu consulado, e voltou para Europa.
Como a igreja católica passou a perseguí-lo, não admitiam, achavam que ele tinha parte com o Diabo, com o demônio. Landell teve sua casa queimada. Eu disse numa palestra na Petrobrás há dois anos que fizeram com Landell a mesma coisa que fizeram aqui com o Padre Pinto. Cadê padre Pinto? Sumiu, ninguém sabe. Inclusive foi até meu colega de ginásio. Landell foi para os Estados Unidos e tentou registrar patete de seus inventos, ficou lá por muito tempo, mas não conseguiu logo patentear. Pediram cópias dos seus inventos sob o argumento que era necessário para registrar. Ele deixou cópias lá. O fato é que ele sai em 1892 e este cônsul alemão que teria passado aqui no Brasil nesta época, acompanhou este lançamento. Quatro anos depois, em 1896 Marconi lança na Itália seu invento, o rádio, com detalhe curioso é que e este Padre Landell também esteve num conservatório no Vaticano, estudou lá. Como era brasileiro e perseguido pela igreja católica, não permitiram que ele se desenvolvesse. Acabou voltando e morreu. A curiosidade é que como o rádio era tido no século XIX como invento do Diabo, hoje Edir Macedo, bem como a igreja católica, usa este mesmo "instrumento do Diabo" para catequizar as pessoas, o que é muito irônico. Hoje serve inclusive para fazer catedral no Iguatemi.
- Quantas emissoras de rádio católicas temos na Bahia?
Perfilino Neto – Na Bahia há sessenta emissoras católicas! Não tenho nada contra religião. Acho que principalmente o jovem deveria ter uma religião, pois assim não chegaríamos onde estamos, seria diferente o mundo. Não para abusar da crença, da credulidade das pessoas, ao ponto do pastor perguntar no programa: “Conte aí irmã, o que fez para melhorar sua vida?"
A irmã: "Passei a freqüentar sua igreja, contribuo todo mês com dízimo e agora tenho uma casa muito grande com duas piscinas, dois carros importados na garagem..." Que Deus é este? Venho de um tempo em que Deus não era vendido como pasta dental ou sabonete no microfone.
A irmã: "Passei a freqüentar sua igreja, contribuo todo mês com dízimo e agora tenho uma casa muito grande com duas piscinas, dois carros importados na garagem..." Que Deus é este? Venho de um tempo em que Deus não era vendido como pasta dental ou sabonete no microfone.
- Acredita que o sindicado dos radialistas tem conseguido benefícios para a categoria, como o senhor ver isto?
Ferfilino Neto - Nenhum benefício! Até porque eles desconhecem a existência do próprio sindicato. Falo no meu livro sobre a origem do sindicato que começa como Associação Baiana de Rádio, no Rio de Janeiro era ABR. Falo inclusive que tem origem no Campo Grande, num daqueles bancos o pessoal se reuniu para formar o sindicato. O sindicato é dirigido hoje por pessoas que não tem o menor conhecimento do próprio rádio, pessoas que comprometem até a gente quando abrem a boca porque são pessoas que não tem condições de estarem lá, mas se apegam ao problema político. Todo mundo é do PT (Partido do Trabalhador) hoje, quem não é do PT? Estando no PT, o Partido do Trabalhador, o resultado é que povo vota! E este pessoal sabe fazer o quê? Sabem fazer baderna, paralisação, ameaçam tirar a rádio do ar, e permanecem nos cargos. Na atual diretoria do sindicato dos radialistas tem pessoas lá que têm quatro ou cinco empregos no governo. As emissoras hoje fazem o que querem. Não existe melhoria salarial, o sindicato está todo nas mãos do governo ou das empresas.
- E o piso salarial do radialista? Qual o senhor acha que deveria ser?
Perfilino Neto - A depender da categoria o cara não deveria receber menos que três salários mínimos. As emissoras cumprem o piso? As emissoras "religiosas", como a Rádio Excelso, por exemplo, não admite radialista, admite Obreiros. A pessoa vai para lá fazer caridade, trabalha seis ou oito meses. As outras emissoras não estão assinando carteira. A rádio Cruzeiro que nasceu fadada ao insucesso, até pelo nome Cruzeiro, o Cruzeiro sempre esteve em baixa, acho que deveria ser Rádio Real ou Dólar, não admite radialista, você vai lá trabalhar com contrato de prestação de serviço, sem carteira assinada e o sindicato não faz nada.
– O que acha da Lei 6.615?
Perfilino Neto - A lei também tem suas omissões. Geralmente quem legisla nem sempre ouve a categoria. O que acontece é que a Lei permite que muita coisa errada aconteça. Por exemplo, no IRDEB pessoas que trabalham na televisão têm um salário diferenciado, ganham mais do quem trabalha aqui na rádio, a própria lei favorece, a lei deixa brecha, deixa muito a desejar.
Descrição da imagem: foto de Perfilino Neto com Elenita Leal e João Souza na sua sala de trabalho na Rádio Educadora.
- Acredita que as rádios públicas estão suprindo a necessidade de mais profissionais com concurso público?
Perfilino Neto - Não! Qual foi o concurso público que houve até hoje? A rádio apetece, todo mundo gosta. Tanto as rádios têm força que políticos não abrem mão do seu horário. O político e o religioso são as duas categorias que mais encaram a força do rádio. Quem não ver esta força é o dono de rádio e o radialista que se acomodam em ganhar porcaria.
- Em relação à cultura no nosso Estado, acha que um programa de poesia tem público?
Perfilino Neto – Tem público. Estou fazendo um programa de poesia usando o radialista Colin Filho, que trabalhou nos anos cinqüenta e sessenta na rádio Tupi, onde o público era tão grande que ele chegou a transformar a série de programas dele em dezoito ou dezenove LPs somente com poemas. Ele usava poemas de Castro Alves, Gonçalves Dias e também de Vinícius, poetas da antiga história e poetas mais recentes. Ele botava um BG agradável, até letras de Roberto Carlos. Ele agradou tanto, agradou muito a ponto de lançar quase vinte LPs. Caso alguém fizesse isto hoje, ao invés de ocupar o microfone para dizer abobrinhas e botar a música da mulher cachorra, fizesse um programa de poesia e também de rádio teatro, o rádio teatro que o rádio deu de mão aberta a televisão, que poderia ser hoje bem utilizado, iria ocupar um grande espaço na programação, ia ter público, ia ter patrocínio, a partir do momento que há público há patrocínio. Não vejo porque o rádio não retomar este filão, um filão que está aí e ninguém atenta para isto.
A história do rádio teatro começa com Amaral Gurgel lendo isto no Rio de Janeiro. Sempre me deporto ao Rio de Janeiro. Alguns ouvintes dizem: ”Perfilino, você fala muito do Rio de Janeiro” Tenho que falar, pois está dentro do contexto. E quem decide? Mesmo Brasília sendo a capital do país ainda São Paulo e Rio de Janeiro predominam. Onde estão as sedes das grandes emissoras de rádio, de televisão, editoras e jornais no país? No Rio e São Paulo. Brasília é a capital do país desde 1960, mas eles não perderam a hegemonia.
Amaral Gurgel no Rio de Janeiro tinha um programa musical na rádio em que ele atendia os ouvintes. Um dia achou que estava monótono o programa, que estava na hora de mudar. Como estava com um romance, começou a ler um capitulo e pediu aos ouvintes no fim que telefonassem para dizer o que acharam, que dessem sua impressão. A repercussão foi a melhor possível. Muito antes de sair da rádio tinha recebido vários telefonemas, as pessoas pedindo que ele desse continuidade. No dia seguinte pegou o livro e deu continuidade lendo outro capítulo. A repercussão foi maior, cresceu. Começaram a chegar cartas. Ele convidou outras pessoas da rádio, colegas para participar da leitura, da narração deste livro. A partir daí resolveu dramatizar no estúdio parte deste livro. Ele cria este drama, este rádio teatro que na época passaram a chamar de Teatro Pelos Ares, era através dos ares que você sintoniza seu rádio. Como a coisa foi crescendo pegaram gente de teatro para trazer para o rádio. Vitor Costa, um radialista muito dedicado, que alcançou a época do Estado Novo de Getúlio Vargas passou a recrutar personagens do teatro para levar para dentro do rádio. Ele cria o rádio teatro. A partir daí emissoras como a Nacional tinha uma média de oito novelas por dia. Tanto que este filão é tão rico no rádio que a televisão usa até hoje, inclusive nos mesmos dias, de segunda a sábado. O Rádio fez isto! Hoje se o rádio fosse fazer o rádio teatro bem feito como se fez no passado tenho certeza que iria retomar a audiência.
Perfilino Neto – Tem público. Estou fazendo um programa de poesia usando o radialista Colin Filho, que trabalhou nos anos cinqüenta e sessenta na rádio Tupi, onde o público era tão grande que ele chegou a transformar a série de programas dele em dezoito ou dezenove LPs somente com poemas. Ele usava poemas de Castro Alves, Gonçalves Dias e também de Vinícius, poetas da antiga história e poetas mais recentes. Ele botava um BG agradável, até letras de Roberto Carlos. Ele agradou tanto, agradou muito a ponto de lançar quase vinte LPs. Caso alguém fizesse isto hoje, ao invés de ocupar o microfone para dizer abobrinhas e botar a música da mulher cachorra, fizesse um programa de poesia e também de rádio teatro, o rádio teatro que o rádio deu de mão aberta a televisão, que poderia ser hoje bem utilizado, iria ocupar um grande espaço na programação, ia ter público, ia ter patrocínio, a partir do momento que há público há patrocínio. Não vejo porque o rádio não retomar este filão, um filão que está aí e ninguém atenta para isto.
A história do rádio teatro começa com Amaral Gurgel lendo isto no Rio de Janeiro. Sempre me deporto ao Rio de Janeiro. Alguns ouvintes dizem: ”Perfilino, você fala muito do Rio de Janeiro” Tenho que falar, pois está dentro do contexto. E quem decide? Mesmo Brasília sendo a capital do país ainda São Paulo e Rio de Janeiro predominam. Onde estão as sedes das grandes emissoras de rádio, de televisão, editoras e jornais no país? No Rio e São Paulo. Brasília é a capital do país desde 1960, mas eles não perderam a hegemonia.
Amaral Gurgel no Rio de Janeiro tinha um programa musical na rádio em que ele atendia os ouvintes. Um dia achou que estava monótono o programa, que estava na hora de mudar. Como estava com um romance, começou a ler um capitulo e pediu aos ouvintes no fim que telefonassem para dizer o que acharam, que dessem sua impressão. A repercussão foi a melhor possível. Muito antes de sair da rádio tinha recebido vários telefonemas, as pessoas pedindo que ele desse continuidade. No dia seguinte pegou o livro e deu continuidade lendo outro capítulo. A repercussão foi maior, cresceu. Começaram a chegar cartas. Ele convidou outras pessoas da rádio, colegas para participar da leitura, da narração deste livro. A partir daí resolveu dramatizar no estúdio parte deste livro. Ele cria este drama, este rádio teatro que na época passaram a chamar de Teatro Pelos Ares, era através dos ares que você sintoniza seu rádio. Como a coisa foi crescendo pegaram gente de teatro para trazer para o rádio. Vitor Costa, um radialista muito dedicado, que alcançou a época do Estado Novo de Getúlio Vargas passou a recrutar personagens do teatro para levar para dentro do rádio. Ele cria o rádio teatro. A partir daí emissoras como a Nacional tinha uma média de oito novelas por dia. Tanto que este filão é tão rico no rádio que a televisão usa até hoje, inclusive nos mesmos dias, de segunda a sábado. O Rádio fez isto! Hoje se o rádio fosse fazer o rádio teatro bem feito como se fez no passado tenho certeza que iria retomar a audiência.
– O senhor apresenta o programa ENCONTRO COM O CHORINHO, pretende fazer outro programa sobre outro estilo musical?
Perfilino Neto - O choro é a expressão mais rica da música popular brasileira. Faço choro desde 1970. Estou atingindo hoje oitocentos e poucos programas de choro e tenho dois mil e poucos programas Memória do rádio. O choro surgiu primeiro que o jazz, em 1850 ou 1860 e o jazz surgiu no início do século XIX. Não pretendo alterar o formato do meu programa sobre o choro, mas tenho o projeto de fazer outro programa sobre o forró, que é um gênero riquíssimo, o forró de qualidade. Não é o forró de Calcinha Preta, de Calcinha Suja ou Rasgada..., é o forró autêntico de Luiz Gonzaga, Jacson do Pandeiro, Marinês, Abidias... Meu trabalho é mantidos com meu acervo particular.
– E o seu acervo, há algum projeto para ele, como por exemplo, ir para um museu?
Ferfilino Neto - Fiz uma loucura de doar cópia de setenta e cinco por cento do meu acervo em 1999 para ser colocado na internet na página do IRDEB. Quem quisesse saber sobre os programas de auditório, rádio teatro, a revolução de 1964, a chegada do homem a lua, sobre as copas do mundo, Repórter Esso..., encontraria estas informações no site. Tudo que doei foi jogado fora, no lixo! Nenhum dos personagens que menciono no meu livro sobre este assunto disse nada! Eu sabia! Na época eu disse para o Diretor do IRDEB que estava trabalhando comigo que não preservariam porque no serviço publico e no rádio cada um que chega a primeira coisa faz é jogar no lixo o que encontra, chega com a sede enorme de destruir que o outro fez. Quando não muda nada, muda de carteira, quer deixar sua marca. Este memorial foi inaugurado com fotos nos jornais, foi uma repercussão enorme, mas jogaram tudo no lixo! Meu acervo só a Deus pertence!
– O que o senhor aconselha para quem está começando a trabalhar em rádio?
Perfilino Neto - Ter uma atividade paralela. Quando entrei no rádio, na época rejeitei um emprego no Conselho Nacional de Petróleo, Petrobrás, e depois me arrependi, rádio não dava camisa a ninguém, como dizia meu pai. Fiz concurso público e acabei até fazendo o curso pedagógico, professor primário, e até hoje não fui buscar o certificado, isto foi nos anos sessenta. Depois fiz concurso para perito criminal, comissário de polícia e trabalhei como escrivão de polícia. Fiz Direito, mas abandonei. Trabalhei em jornal (A tarde, Correio...), não dava para conciliar serviço público, rádio e estudar.
– O que o acha que melhorou no mercado musical?
Perfilino Neto – Só a tecnologia!
– Qual tem sido a repercussão do livro?
Perfilino Neto – Recebo e-mail elogiando minha coragem por ter escrito o livro. E-mail até do outro lado do mundo, Portugal, França...., recebo acrósticos sobre o programa Memória do Rádio. Este é o salário moral! Isto me estimula!
– Hoje se fala em inclusão da pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Como o senhor ver a inclusão no meio radiofônico?
– Hoje se fala em inclusão da pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Como o senhor ver a inclusão no meio radiofônico?
Se ele tiver dom deve lutar por esta inclusão. Temos na rádio Sociedade Oton Carlos que faz um trabalho muito bom. Você dá um texto a ele e na mesma hora ele memoriza.
– O senhor tem idéia do seu público entre os deficientes visuais?
Perfilino Neto – Não! Alguns me procuram e fico muito satisfeito.
– Nestes cinqüenta anos de profissão tinha algum ídolo que almejava muito conhecer e conseguiu?
Perfilino Neto - Luiz Gonzaga. Ele embalou muito minha infância através de serviço de alto-falante. Ele achou estranho meu nome e disse: “Onde teu pai achou este nome esquisito?” Respondi que era do meu avô, Perfilino Eugênio Ferreira Neto. Ele passou a chamar-me de Ferreira Neto, fiquei à vontade. Com quase cinqüenta minutos de entrevista ele gritou: “Ferreira Neto cabra da peste, é você mesmo?” Valeu a pena, ele era muito diferente das vedetes, das estrelas da música baiana, como as Sangalos da vida, as Mercurys , Carlinhos Brown, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Bethânia, pessoal este que não pisa no chão. No meu programa não falo deles. Ter acesso a eles é muito difícil!
- Qual a sua meta de programas Memória do Rádio?
Perfilino Neto – Tenho dois mil e poucos programas e minha meta é chegar a cinco mil programas só do projeto Memória do Rádio. Também divulgar meus livros sobre rádio e música. O primeiro e o segundo estão prontos, do terceiro já tenho sessenta porcento.
Entrevista concedida em 20/09/2010 a João Souza, Elenita Leal, Lília Castro
- Qual a sua meta de programas Memória do Rádio?
Perfilino Neto – Tenho dois mil e poucos programas e minha meta é chegar a cinco mil programas só do projeto Memória do Rádio. Também divulgar meus livros sobre rádio e música. O primeiro e o segundo estão prontos, do terceiro já tenho sessenta porcento.
Entrevista concedida em 20/09/2010 a João Souza, Elenita Leal, Lília Castro